domingo, 14 de julho de 2013

EQUÍVOCOS

Ao fazer uma escolha em papéis, jornais e revistas fora de uso, com o intuito de deitar para o lixo o que já não tem qualquer utilidade, folheei algumas revistas e, entre as coisas a que dei uma vista de olhos, deparou-se-me uma “confissão” duma empresária, cujo nome não vou revelar.
Declara ela, em entrevista, que o maior erro que cometeu foi ter ido visitar um amigo ao hospital, que encontrou em estado lastimável – tivera um acidente de automóvel e estava cheio de ligaduras, não conseguindo falar. Esteve lá bastante tempo, e saiu muito preocupada quanto ao seu estado de saúde, temendo até que o pior pudesse acontecer.
Só no dia seguinte soube que o seu amigo se encontrava relativamente bem, e tivera alta do hospital no dia anterior. Foi quando percebeu que a pessoa com quem estivera no hospital não era o seu amigo, mas um simples desconhecido.
 
Principalmente por ela ter considerado este episódio como, se não o maior, pelo menos um dos maiores erros da sua vida, veio-me à lembrança uma outra história, que achei maravilhosa, e vou partilhar convosco:
 
  
“A enfermeira, segurando o braço do cansado e ansioso “marine”, conduziu-o para a cabeceira do doente.
- O seu filho está aqui – disse ela para o velho homem. Teve que repetir as mesmas palavras algumas vezes, antes que o doente abrisse os olhos.
Fortemente sedado por causa da dor do seu ataque cardíaco, ele mal viu o jovem uniformizado da Marinha, que se mantinha fora da tenda de oxigénio.
Estendeu a mão; o “marine” envolveu nos seus os dedos inertes do velho, apertando-os numa mensagem de amor e incentivo.
A enfermeira trouxe uma cadeira para que o “marine” pudesse sentar-se ao lado da cama.
Durante toda a noite o jovem fuzileiro naval ficou na enfermaria mal iluminada, segurando a mão do velho e dirigindo-lhe palavras de amor e força.
Algumas vezes a enfermeira sugeriu ao marinheiro que fosse descansar um pouco, mas ele recusou. Alheou-se da enfermeira e dos ruídos nocturnos do hospital – o tilintar do tanque de oxigénio, o riso de alguns funcionários da noite trocando saudações, os gritos e gemidos dos outros pacientes.
De vez em quando a enfermeira ouvia-o dirigir algumas palavras gentis ao doente. O moribundo não disse nada, apenas segurou com força a mão do filho durante toda a noite.
Ao amanhecer o velho morreu.
O “marine” largou a mão agora sem vida e foi avisar a enfermeira.
Enquanto ela tratava do que era necessário ele aguardou. Finalmente ela voltou, e começou a dirigir-lhe palavras de apreço e simpatia. O “marine” interrompeu-a:
- Quem era aquele homem? – perguntou.
A enfermeira assustou-se:
- Ele era o seu pai – respondeu.
- Não, não era – informou o “marine". Eu nunca o tinha visto na minha vida.
- Então… porque é que você não disse nada quando eu o conduzi até ele?
- Eu soube imediatamente que a senhora estava enganada, mas também percebi que ele precisava do seu filho, e o seu filho não estava aqui. Quando eu compreendi que ele estava demasiado doente para saber que eu não era o seu filho, sabendo o quanto ele precisava de mim, eu fiquei.
Eu vim aqui esta noite para encontrar um senhor William Grey. O seu filho foi morto ontem, no Iraque, e eu fui enviado aqui para o informar. Qual era o nome desse cavalheiro que morreu?
A enfermeira, com lágrimas nos olhos, respondeu:
- Sr. William Grey."
 
"Quando alguém precisar de si faça o possível por estar lá".