sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

O ANJO NEGRO

O ANJO NEGRO









Não resisto a partilhar convosco um caso que se passou comigo na última Primavera.
Como gosto muito de andar a pé, e sempre que posso faço caminhadas, fui dar um longo passeio pelo parque que dista cerca de dois quilómetros da minha casa.
A determinada altura do percurso encontrei uns degraus, cerca de 18 ou 20, por onde eu já tinha subido há dois ou três anos. Tinha-me esquecido de que são altíssimos, ou seja, a distância entre um degrau e outro, não deve andar muito longe dos 40 cmts. Nada de muito grave, se houvesse um corrimão para apoio, que não existe, pois esta “escadaria” encontra-se numa zona de árvores e os degraus são de terra batida.
Depois da primeira tentativa vi logo que não conseguiria subir. Para agravar a situação – a minha falta de ar!
(Para quem não sabe… eu sofro de asma que, nos últimos dois anos teve um ENORME agravamento devido a algumas infecções pulmonares que me “atacaram”)
Quando eu olhava, desanimada, para os degraus que tinha à minha frente, pensando que não conseguiria vencer aquele obstáculo e a solução seria voltar para trás, surgiram dois rapazinhos pretos, um mais alto que o outro, que deveriam ter uns 15 a 16 anos.
Perguntaram-me se eu precisava de ajuda. Imediatamente aceitei, agradecendo. O mais baixo segurou a minha mão esquerda e, lentamente, fomos subindo. Vi que notava a minha dificuldade em respirar e por isso achei que devia falar-lhe no meu problema da asma. Parei no degrau em que nos encontrávamos e expliquei-lhe o porquê da minha falta de ar.
Ele ouviu atentamente e depois disse:
- Isso é muito aborrecido, não é?
Eu respondi:
- Sim, às vezes é mesmo muito incómodo. Dificulta a respiração e impede-me de fazer esforços. Como subir estas escadas, por exemplo – concluí, sorrindo.
Ele acrescentou:
- Vamos devagar. Temos muito tempo. Eu não tenho pressa nenhuma.
Eu agradeci com um sorriso.
Continuámos a subir. O conforto daquela pequena mão negra segurando firmemente a minha mão com mais do quádruplo da idade da sua, transmitia-me uma energia boa, aquecia-me o coração.
Chegados ao cimo da “escadaria” ficámos uns momentos em silêncio, especialmente para eu normalizar a respiração.
À despedida não trocámos emails, nem telefones, nem sequer os nomes… Nada!
Ele apenas me olhou com o seu maravilhoso sorriso, um ar ligeiramente interrogativo como que a querer saber se eu já estava bem, e não pronunciou uma palavra.
Eu sorri em agradecimento. Murmurei “Obrigada!”, aproximei-me e depositei um beijo naquela face negra de Anjo disfarçado de rapazinho.
Separámo-nos. Cada um seguiu o seu caminho.
Mas eu JÁ não ia sozinha…



*****
No Natal que se aproxima e em todos os dias do ano meditemos nas palavras do poeta João Coelho dos Santos, no seu poema ENTÃO E EU?


Um santo e feliz Natal para todos

sábado, 4 de novembro de 2017

FÉRIAS EM FOTOS - Segunda parte

Finalmente (!) terminei o PPS referente à segunda parte das minhas férias deste ano – 2017.
Tal como aconteceu com a primeira parte, também nesta juntei às fotos alguma informação que fui recolhendo nos locais que visitei e outra que retirei dos vários folhetos que trouxe comigo.

Espero não ter sido demasiado exaustiva… e que vos agrade.

A MUDANÇA DE SLIDES É FEITA COM O RATO



E agora… uns vídeos que espero sejam do vosso agrado:

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

FÉRIAS EM FOTOS

FÉRIAS EM FOTOS
As prometidas fotos das férias têm estado demoradas…
Acontece que de há uma semana para cá tenho tentado alojar o PPS num site que reproduza som… mas sem sucesso.
Desisti! Vão assim mesmo. Ficava mais bonito com fundo musical… mas não consegui.
Esta é a primeira parte. Tive que dividir para o ficheiro não ficar demasiado pesado.
Juntei às fotos alguma informação que fui recolhendo nos locais que visitei e outra que retirei dos vários (variadíssimos!!!) folhetos que trouxe comigo (quando viajo venho sempre carregada de papéis J )
Espero não ter sido demasiado exaustiva… e que vos agrade.

A MUDANÇA DE SLIDES É FEITA COM O RATO
Férias 2017 usa - primeira parte de Mariazita Caiano

E, se ainda vos restar um pouco de paciência… dêem uma olhada nestes vídeos.
É rápido…

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

REGRESSO DE FÉRIAS

Regressei! Com muita pena… mas regressei, não sem antes lançar um último olhar sobre um dos ícones (Estátua da Liberdade) do país onde passei as últimas férias - USA
Visitei novos lugares, revi outros que já conhecia, acompanhada do filho, da filha e da neta, e dos familiares lá residentes.
Foi, até certo ponto, como que uma romagem de saudade…
Fotos? Algumas centenas… Com três “fotógrafos” a “registar o momento” outra coisa não seria de esperar…
Vou escolher algumas, colocá-las num PPS, e, logo que possível, partilhá-as-ei convosco.
Até lá… irei agradecer a cada uma das pessoas que gentilmente me visitaram na minha ausência, para as quais deixo aqui e agora o meu “Muito obrigada”! 

sábado, 22 de julho de 2017

MOMENTO DE POESIA – A CONCHA MENINA

Há uns anos escrevi estes versos para homenagear uma jovem amiga de 15 anos, que, tal como eu, adorava lendas.
Espero que vos agrade tanto como agradou a ela, não esquecendo que se trata de um "poema"… infanto/juvenil…
Para ouvir clic na seta abaixo.


                                     A CONCHA-MENINA



Uma lenda muito antiga
Falava duma menina
Que numa concha vivia.
Era feliz, a menina…
Mas um segredo escondia…
Um dia,
Passeando à beira mar,
Ouvi um leve murmúrio
E o segredo descobri.
Queres que to conte?
Então escuta:

Bem por trás do arco-íris,
Onde o sol nasce no mar
Há uma cabana junto à praia
Que, dizem, foi habitada,
Por um génio
Que a deixou encantada.

Dizem ainda
Que nas noites de luar,
De uma concha que se abre,
Linda menina aparece
Logo se pondo a cantar.

Marinheiro que se preze,
Em noite de lua cheia
À praia vem espreitar
E escuta, em doce enlevo,
Como canto de sereia, 
Da menina o seu cantar.

E quando o dia amanhece
A concha volta a fechar
Mantendo dentro a menina
Que não pode mais cantar
Até que surja o luar.

Mariazita


Esta é a minha última postagem antes das férias.
Dentro de poucos dias vou “voar” para os Estados Unidos, donde regressarei em meados de Setembro. 
Até lá… desejo-vos tudo de bom.

terça-feira, 27 de junho de 2017

O SEGREDO DE BELA


O SEGREDO DE BELA

Depois de cumprido o que considerava um dever – tentar convencer Tó Zé, o seu ex, a ajudar o filho de ambos – Nanda levou o Nero a passear.
Após ter comido e bebido, o pobre cão estava tão aflito que, mal se apanhou na rua, alçou a perna no arbusto mais próximo, não tendo já capacidade vesical para aguentar até à árvore que normalmente regava com os seus fluídos urinários.
Nanda ia de tal modo absorta nos seus pensamentos que nem se apercebeu de que estava a ser conduzida pelo Nero. Só quando sentiu uma forte pressão na trela se lembrou do local onde se encontrava e do que estava ali a fazer – a passear o cão.
Arrastada pelo animal, acabou por dar quase de frente com a vizinha do lado, também ela dona de um canídeo, mas do sexo oposto.
A Diana era uma cadelinha que vivia apaixonada pelo Nero, o qual correspondia, com fidelidade canina, a esse amor.
Feitos os cumprimentos, das donas e principalmente dos seus estimados animais, estes, com encostos de focinhos e outras expressões de afecto, preparavam-se para ir mais longe nas suas manifestações, mas foram severamente interrompidos pelas respectivas donas que, de momento, não tinham muito tempo para lhes permitir grandes efusões.
Puxando-os com força pelas trelas conseguiram que se afastassem. Os pobres animais, contrariados, tiveram que obedecer, mas ficaram olhando para trás, mirando-se um ao outro, com um ar muito desconsolado e infeliz.
De regresso a casa Nanda deu uma arrumadela às roupas que usara no dia anterior, compôs a cama, passou pela cozinha e pela sala, e, considerando que tudo estava mais ou menos apresentável, apressou-se a ir tomar um refrescante banho e vestir roupas elegantes para ir encontra-se com a Bela.
Já estava ligeiramente atrasada.
Assim, quando chegou ao “Caminho de Casa” a amiga já a aguardava.
Abraçaram-se efusivamente e, depois de uns ruidosos beijos, escolheram uma mesa e sentaram-se.
A conversa só foi interrompida para encomendarem o almoço. Escolheram salada para ambas já que andavam a tentar perder peso.
Nem uma nem outra precisava disso, mas preocupavam-se com umas gordurinhas embirrantes que teimavam em alojar-se “naquela zona da cintura”. Sonhavam voltar a ter as “cinturinhas de vespa” dos seus vinte anos…
Falaram de tudo e de nada, como se há muito tempo não se vissem.
Esqueciam-se que conversavam todos os dias, faziam caminhada juntas, e de vez em quando encontravam-se para almoçar. Mas nunca lhes faltava assunto.
Nanda pôs Bela ao corrente dos últimos acontecimentos, dizendo-lhe como se sentia baralhada com tudo o que lhe estava a acontecer.
- Só para veres como estas coisas me estão a afectar… imagina que até
comecei a pensar na hipótese de ir trabalhar com o TóZé, aquele traste!
- Bem, na verdade isso mostra que a tua cabeça anda à razão de juros. Espero bem que tenha sido apenas um pensamento passageiro, e que não leves isso a sério…
- Não, claro que não; nem que o Tó Zé fosse o último homem no mundo eu quereria estar perto dele!
E continuaram conversando animadamente.
Sendo ambas divorciadas, sem ter que dar satisfações a ninguém, às vezes iam para a “night” beberricar uns copos e divertir-se.
Foi o que combinaram fazer. À noite, depois de comerem qualquer coisa, encontrar-se-iam e iriam para a paródia.

À hora combinada lá estavam elas, “vestidas para matar” e lindamente maquilhadas. E alegremente passaram umas horas nos locais já conhecidos de ambas, onde sabiam poder estar sossegadas, sem correrem o risco de serem mal interpretadas e sofrerem dissabores.
Ouviram música, beberam sem exagero, e ainda deram um “pezinho de dança” com conhecidos de outras vezes que lá tinham ido.
Quando se sentiram satisfeitas regressaram, e, próximo de casa, despediram-se com um “até amanhã”.
Nanda entrou no seu apartamento, tirou os sapatos, trocou a roupa pelo pijama e, como ainda não tinha sono, apesar da hora adiantada, quase de madrugada, foi para a sala.
Ligou a música em tom baixo, e abriu a porta do bar, do lado direito do aparador. Olhou, procurando a bebida que iria beber. Não lhe apetecia muito um licor – àquela hora não queria uma bebida doce. Optou por Whisky. Serviu-se, foi à cozinha buscar gelo, e, à média luz, recostou-se no sofá.
De olhos fechados deliciava-se ouvindo a música suave, tomando um gole de whisky, vagarosamente. Sem opor resistência, como num sonho, deixava-se embalar por aquela quietude.
Lentamente, como que a levitar, encaminhou-se para a janela e olhou lá para fora. Na semi claridade do alvorecer avistou, na praia, um vulto que lhe pareceu familiar.
Mas… Não! Não podia ser verdade! Aquela figura que caminhava na praia, a princípio apenas difusa, à medida que se aproximava… sim, não havia dúvidas! Era o Luís. Mas porque andaria ele na praia, àquela hora matinal?

Na longínqua linha do horizonte vislumbravam-se já os primeiros rubores da alvorada, anunciando mais um dia de sol e calor.
Na praia, Luís, descalço na areia fria, um ar desalentado, ombros descaídos, no rosto bronzeado as fundas olheiras denunciavam uma longa noite de insónia.
Com visível esforço ia caminhando lentamente quando, inesperadamente, avistou o seu irmão André.
Este, alegremente, aproximou-se em passo rápido para saudar o irmão; mas imobilizou-se ao atentar bem no aspecto de Luís. Com ar de espanto, exclamou:
- Eh! Pá, estás cá com uma cara que mete medo ao susto!
- Não me digas nada, pá. Nem imaginas o que me aconteceu.
- Não, não posso imaginar o que te pôs nesse estado! Viste algum fantasma?
- Bem pior do que isso… mas antes diz-me: o que fazes tu aqui na praia a estas horas, com esse ar tão feliz? Ainda mal nasceu o dia…
- Eu conto, sim, mas depois. Primeiro quero saber de ti.
Nanda abria a boca de espanto. Como era possível? O seu filho André vivia na Suíça, com a Silvana: o Luís ainda ontem estava no Algarve, acabara de ser pai… A que propósito estavam os dois ali na praia, conversando como se se tivessem visto na véspera?
Resolveu continuar a prestar atenção à conversa dos dois irmãos.
- Tudo bem, então eu falo primeiro – respondeu Luís.
Ontem, para festejar o nascimento do meu filho (a mãe contou-te… penso eu) fui com uns amigos beber umas granjolas. A certa altura o Xico (lembras-te dele…) propôs que passássemos para bebidas mais fortes. A ocasião até justificava… e todos concordaram.
Já estávamos bem bebidos quando entra no bar um grupo de mulheres, todas em grande risota. Depois de ligeira hesitação, cochicharam e dirigiram-se para a nossa mesa. Imagina quem fazia parte do grupo… A Bela!
- O quê? A Bela, amiga da mãe?
- Claro! Conheces mais alguma Bela?
- Não. Mas continua.
Neste ponto Nanda sentiu-se desfalecer. Bela, a sua melhor amiga, num bar “daqueles”? Não podia ser. O seu filho Luís devia estar completamente bêbado e tinha-a confundido com uma galdéria qualquer!...
Com esta ideia recuperou a calma e continuou ouvindo a conversa. Luís dizia:
- Sentaram-se ao pé de nós e pediram bebidas iguais às nossas. Não sei quanto tempo depois disseram que se iam embora, e ali mesmo se formaram casais… A mim calhou-me a Bela.
- O quê? Estás a brincar!...
- Antes estivesse… Mas não estou, aconteceu mesmo. Fui com a Bela para casa dela. Levou-me para o quarto e… enfim, podes imaginar o que se seguiu. Tu conheces a Bela…
- Conheço, conheço…
- Sabes que ela consegue ser espantosa! Mete-te no coração e tu nem te atreves a reagir…
- Lá isso é verdade…
-Pois então! Quando dei com aqueles olhos líquidos, que prometiam delírios, a fixarem-me intensamente, quando me senti docemente envolvido nos seus braços, a Bela desprendeu-se, foi até à porta do quarto, abriu-a, e, em altos brados, exclamou:
- SURPRESA!
Foi mesmo uma surpresa, uma enorme surpresa!
Afastando-se para o lado apresentou-me uma mulher horrenda!
Não era ainda velha, mas feia como a noite dos trovões! Um olho abaixo e outro acima, mirando cada um para seu lado, a boca torta, desdentada, ostentando um sorriso alvar. Só lhe faltavam os pêlos no nariz para ser uma autêntica bruxa, saída de um conto de Andersen.
- E qual foi a tua reacção?
- A princípio fiquei sem acção. Mas quando vi o riso de escárnio e gozo na cara da Bela… atirei-me – literalmente – pela janela, meti-me no carro, e vim para aqui. Sabes como o mar é para mim um calmante…
- Razão tens tu para estar com esse aspecto horrível…
- Digo-te, foi a pior experiência da minha vida. Mas diz-me tu agora: com esse ar tão feliz…onde passaste a noite?
- Eu? Eu… passei a noite com a Bela.
Excerto do meu projecto literário com o título (provisório) “ Segredos”.

Maria Caiano Azevedo

terça-feira, 6 de junho de 2017

VÊ-LO PARTIR - "IN MEMORIAM"

VÊ-LO PARTIR



"IN MEMORIAM"

Este poema representa uma espécie de “memorial” em homenagem a quem partiu, faz hoje, dia 6 de Junho de 2017, cinco anos, mas permanece vivo na minha memória e no meu coração – o meu Marido
    
VÊ-LO PARTIR
Vê-lo partir
Não foi assim tão triste, não.
Foi muito mais triste depois,
Ao recordar, sozinha,
O caminho antes percorrido
Com ele ao lado, para mim sorrindo…
Segurando a minha mão…

Como era alegre o seu sorriso
E festivo e risonho
O meu abrigo!

Ele partiu, levando consigo
Toda a ternura que existia em mim,
Deixando, para sempre
Um vazio sem fim…

Os dias, monótonos,
Perderam toda a graça.
Sem saber o que fazer,
À deriva,
Penso na minha desgraça.

As horas vão passando.
O sol, em surdina, declinando.
Um arrepio, percorrendo-me,
Recorda-me que estou viva,
E que ele partiu…

E quando à tarde, sozinha,
Debruço
O olhar sobre o caminho percorrido,
Lembro-me dele
E, sem querer, soluço.

Mariazita

domingo, 21 de maio de 2017

VIAGEM À NORUEGA

VIAGEM À NORUEGA

Por dificuldades “técnico/informáticas” não tive possibilidade de preparar o post que tencionava publicar no dia 18.
Como não prevejo quando o dito problema estará resolvido… decidi partilhar convosco um PPS referente à viagem de duas semanas que fizemos à Noruega, na última semana de Agosto e primeira de Setembro de 2011.
A Noruega é um país com características muito próprias, com usos e costumes bem diferentes dos outros países europeus.
Tem paisagens deslumbrantes, algumas de cortar a respiração; o tráfego automóvel é muito reduzido – viaja-se essencialmente de barco, pelos incontáveis fiordes.
Nós fomos de avião de Lisboa para Oslo – capital da Noruega – e lá tínhamos à nossa espera um confortável autocarro, no qual percorremos uma grande parte do país.
Das inúmeras fotos tiradas escolhi algumas das que me pareceram mais esclarecedoras. Tive que reduzir o máximo da sua resolução (doutro modo o ficheiro ficaria pesadíssimo) pelo que a qualidade das mesmas não é muito boa.
Conto com a vossa compreensão, e espero que gostem de me acompanhar nesta viagem maravilhosa.
Liguem o som e vejam em ecrã completo.


terça-feira, 2 de maio de 2017

AS CALCINHAS DA MARIA EUGÉNIA

AS CALCINHAS DA MARIA EUGÉNIA

Maria Eugénia era um doce de pessoa!
Sempre com um sorriso no rosto a todos acolhia com carinho e ternura, pronta a proporcionar todo o auxílio a quem dele necessitasse, fosse para simplesmente dar um conselho fosse para oferecer um ombro amigo para um eventual derrame de lágrimas.
Tendo sido uma alegre bebé gorducha, transformou-se numa adolescente rechonchudinha e, mais tarde, numa jovem de formas redondinhas.
Sem qualquer complexo em relação ao seu aspecto um pouco “anafado”, quando alguém lhe dizia que talvez devesse perder um pouquinho de peso, respondia alegremente:
- Gordura é formosura.
Atingiu assim os dezoito anos, sempre alegre e feliz.
Em breve conheceu um jovem, António, com quem simpatizou bastante e que logo a cortejou.
Tratava-se dum rapaz com muito boa aparência e bem instalado na vida, que, com a aprovação da família, começou a namorar a Maria Eugénia.
Decorridos três ou quatro anos de namoro, o tempo que naquela altura se considerava normal para se conhecerem, realizou-se o casamento.
As “amigas”, cheias de inveja, achavam que, tratando-se de um rapaz tão bonito, com uma vida confortável como poucos na sua idade, bem poderia escolher noiva mais apresentável, como algumas delas, por exemplo. Não que Maria Eugénia fosse feia, pois tinha um rosto muito bonito; mas, com as suas formas bem anafadas, não devia muito à elegância.
O que as “amigas” não sabiam era que, o que tinha prendido António, era, acima de quaisquer atributos físicos, o enorme coração de Maria Eugénia, ao qual se rendera incondicionalmente.
Foram felizes até ao fim dos seus dias.
António trabalhava com importações de tecidos finos (sedas, veludos, tules…) o que, naquela época, contribuía para engrossar a sua conta bancária.
Mais tarde abriu uma loja onde vendia vestidos para noivas e acompanhantes, costurados nas traseiras da loja, onde instalara uma pequena fabriqueta.
Com o tempo, e com o seu dom especial para os negócios, em breve abria mais lojas e montava uma fábrica de confecções a sério.
Neste tipo de trabalho em que se ocupava António, a clientela era essencialmente feminina. E porque ele era, de facto, um homem muito atraente, a quem o casamento e a idade haviam aumentado o encanto natural, as suas clientes não raras vezes tentavam insinuar-se junto dele. Porém António, com um sorriso constante nos lábios, contornava a situação conseguindo manter-se fiel ao casamento. Não perdia a cliente e não traía Maria Eugénia.
Por vezes, despeitadas, e porque conheciam Maria Eugénia, quando a encontravam tentavam intrigar, insinuando que António fora visto aqui e ali, em situações mais que suspeitas.
Maria Eugénia ouvia-as com toda a atenção e delicadeza, próprias da sua maneira de ser, e no fim, esboçando o maior sorriso que podia ostentar, respondia, com humor:
- Ora! O que é que isso importa? Depois de lavado fica como novo!
E assim desarmava as “amigas de Peniche”.

Maria Eugénia teve dois filhos, que eram o encantamento dos pais.
As duas gestações não favoreceram nada o físico de Maria Eugénia que apresentava agora umas formas mais redondas ainda.
Isso não parecia preocupá-la minimamente, e a sua felicidade familiar era completa.
Com o desenvolvimento dos negócios António arranjou clientes na Madeira e Açores, os quais visitava no princípio das estações, levando-lhes mostruários das suas colecções de tecidos e catálogos dos vestidos de noiva.
Enquanto as crianças foram pequenas António viajava sozinho porque Maria Eugénia, mãe extremosa, não os queria deixar entregues às criadas.
Porém, quando eles já eram mais crescidos, e porque tinham sido educados segundo valores éticos responsáveis, Maria Eugénia começou a acompanhar o marido.
Numa dessas viagens à Madeira quando chegaram ao hotel e se instalaram no quarto, Maria Eugénia verificou, horrorizada, que se tinha esquecido de meter calcinhas na mala. Ficou aflita.
As estadias, tanto na Madeira como nos Açores, demoravam sempre duas semanas e eram feitas entre fins de Janeiro a princípios de Março.
Seria impensável andar todas as noites a lavar as calcinhas, até porque era Inverno e o mais provável seria não secarem durante a noite.
O marido, que entretanto ficara à conversa com um conhecido no hall do hotel, foi encontrá-la bastante aborrecida com o seu esquecimento. Mas logo encontrou solução:
- Depois de almoço, quando eu for visitar o cliente “X”, tu aproveitas o tempo, vais às lojas e compras todas as calcinhas que achares necessárias.
Maria Eugénia respirou aliviada. No meio da aflição e aborrecimento por se ter esquecido duma coisa tão básica com calcinhas, nem lhe ocorrera uma solução tão simples.
Tal como combinado, de tarde Maria Eugénia pôs-se em campo à procura de lojas de lingerie. Entrou na primeira que encontrou onde um amável senhor a cumprimentou com um sorriso.
Quando Maria Eugénia lhe disse o que pretendia o senhor perguntou-lhe:
- Qual o número que a senhora deseja?
Meio encabulada, Maria Eugénia gaguejou…
- Bem, o número não sei ao certo… Olhe… são para mim…
O senhor mirou-a com toda a atenção, como que a tirar-lhe as medidas. Voltou-se e retirou da prateleira uma caixa de calcinhas. E disse, olhando-a novamente.
- Penso que este tamanho deve estar bem, e até lhe dá até ao fim do tempo…
Maria Eugénia engoliu em seco, até certo ponto feliz porque o senhor não pensara que ela estava simplesmente gorda, pagou e retirou-se.
À noite, ao contar ao marido o sucedido, com uma forte gargalhada ela comentou:
- Ainda bem que ele pensou que eu estava grávida. É bem melhor do que pensar que a minha gordura é simplesmente gordura.
Abraçando-se, ambos riram a bom rir. E António rematou com a frase habitual:
- Adoro-te, minha gorduchinha querida.

 Naquela altura a Maria Eugénia estava, simplesmente, gorda, não estava grávida.
Mas já por duas vezes pudera usufruir desse “estado de graça”, e sentira-se a pessoa mais feliz do mundo.

Dedico este pequeno e despretensioso conto, BASEADO NUMA HISTÓRIA VERÍDICA, a todas as Mães de todo o mundo - cujo “DIA”, em Portugal se celebra no primeiro Domingo de Maio, este ano no próximo dia 7.